E quem quiser contribuir, mandando inclusive textos, é só me contactar. Comentários, é claro, serão bem-vindos - quem quiser polemizar, discutir, brigar, também pode: só não prometo continuar no tema, pois o tempo nem sempre existe, nem tudo vale a pena mergulhar fundo e os assuntos são muitos.

Ah! Para quem não me conhece, posso me definir como um ATIVISTA CULTURAL BRASILEIRO – adotando definição dada pela jornalista Beatriz Wagner (obrigado, Bea!) durante o Brazil Film Festival de Sydney, em outubro de 2009. Sou de São Paulo, capital, mas moro em Sydney, Austrália desde o final de 1980. Além de ser ou gostar de ser um ativista cultural, ou como parte disso, faço música, cinema, escrevo, trabalho como guia de turismo multilíngüe (em português, inglês, espanhol e italiano) viajando por toda a Austrália, faço traduções, dou aulas de violão, português e inglês, entre outras coisas – e sou formado em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie (SP) sem ter exercido a profissão.

sexta-feira, maio 21, 2010

MÚSICA DE DENTRO - DORI CAYMMI



Maravilhoso o novo trabalho de Dori Caymmi, um dos grandes músicos do nosso país. Quem gosta da melhor MPB, dos mais lindos arranjos (Dori é arranjador, dos melhores), de lindas melodias, da voz maravilhosa de Dori (que logicamente nos faz lembrar seu pai, Dorival, um dos maiores gênios que o Brasil produziu), não pode deixar de ter esse CD.
Deixo aqui o meu grande abraço a você, Dori Caymmi e, sem qualquer exagero, gostaria que a sua criatividade e talento iluminassem as minhas andanças pela nossa música e inspirassem os meus projetos futuros. Tenho o maior orgulho de conhecer e ter acompanhado todo o seu trabalho, desde o início.

E aqui está o que Maria Bethânia tem a dizer a Dori sobre esse CD:

Dori,
Seu disco é lindo. Tudo que eu gosto tanto: linda música, poesia inspirada, amizades novas, velhos amigos, vozes raras, timbres e intenções belíssimos. Sua música cobrindo a palavra do Paulinho, encontro de pura luz. Saúde de já poder dizer só o que mais interessa.
Outros parceiros, que novidade tão bem-vinda essa parceria com o Chico, que saudade do Buarque assim, sabendo de cada pulsação, do ritmo de amar de uma mulher, e o melhor, tão comovido com isso!
Edu com sua voz que o frevo tingiu, machucando os corações em dueto com você. Ai, todas as saudades que sinto do Recife...
Obrigada por me deixar dizer quanto me comoveu seu disco, suas escolhas, sua dedicatória. É bonito ver você com sua música, ver a música lhe ganhando, lhe dando um baile, lhe governando, guiando, dizendo que sem ela não há saída, muito menos encanto.
Que alegria sentir o ninho bem cuidado.
Maria Bethânia
(Rio de Janeiro, 3 de março de 2010)

Canto pra Dorival

Dori Caymmi lança o disco Mundo de dentro e prepara songbook sobre a obra do pai. Radicado há vários anos nos EUA, o compositor confessa: "Gosto de trabalhar no Brasil"
Ailton Magioli - EM Cultura
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A proximidade do 30 de abril deixa a família Caymmi emocionalmente abalada. “É uma data dura de a gente viver”, explica Dori Caymmi, de 66 anos, filho de Dorival. Sexta-feira que vem, o autor de Marina completaria 96 anos. Ele e a mineira Stella Maris – mortos em 2008 – se casaram justamente no último dia deste mês. “Drummond, papai e Guimarães Rosa tinham que continuar vivendo para o mundo ficar menos medíocre”, protesta Dori.

Radicado há duas décadas nos Estados Unidos, o cantor, compositor e violonista está de volta ao Brasil para lançar mais um disco. Na quarta-feira, em Ouro Preto, ele foi homenageado com a Medalha da Inconfidência, concedida a ele e ao parceiro Paulo César Pinheiro pelo governo do estado. Os dois fizeram dobradinha na genial Desenredo (“Ê, Minas/ Ê, Minas/ É hora de partir/ Eu vou/ Vou-me embora pra bem longe).

Originalmente lançado no Japão e com algumas modificações de repertório, Mundo de Dentro, o 12º álbum solo de Dori Caymmi, chega com canções literalmente traduzidas para o português, conforme exigência do autor. “Quero fazer um disco do Brasil, de língua portuguesa, cantando para meu pai e para minha mãe. Tanto que botei o retrato deles lá”, emociona-se.

“Meu contrato com o Quincy Jones dizia o seguinte: quando eu fizesse a música em português, ela ficava minha para o Brasil ou para o mundo, evidentemente. Preciso garantir minha aposentadoria. Sou músico, nunca ganhei e nem meus discos ganharam prêmios. Sempre fui posto de lado, ficando de arranjador, o que era mais cômodo. A crítica sempre foi injusta com o meu lado artístico: nunca fala de mim como cantor, como compositor. Já me acostumei, faço parte da turma do Vadico, de Noel Rosa e de vários compositores que sempre foram jogados para o lado”, discursa.

Dori garante que não tem mágoas. “Quando era garotão e estava começando, me revoltava um pouco. Depois passou, fiquei o arranjador. As pessoas acham que não sou compositor”, lamenta. Das 13 canções do novo CD, 12 são parcerias com Paulo César Pinheiro: Quebra-mar, Rio Amazonas, É o amor outra vez, Chutando lata, Delicadeza, Dia de graça, Dança do tucano, Sem poupar coração, Flauta, sanfona e viola, Mundo de dentro (assinada por Danilo Caymmi), Armadilhas de um romance e Saudade de amar.

Exceção à regra, Fora de hora, a única parceria de Dori com o amigo Chico Buarque, já havia sido gravada por Joyce e por Nana Caymmi. Entre as inéditas, além da faixa-título Mundo de dentro, estão Delicadeza (feita para os pais) e Armadilhas de um romance.

PEQUERI

Apesar da proposta de transformar a casa da família, em Pequeri, na Zona da Mata mineira, em museu ou algo parecido, Dori diz que o imóvel será mantido para os netos de Dorival. “Meu pai tinha paixão por Pequeri. Mamãe nasceu lá, mas não curtia muito não. Papai gostava do silêncio, gostava de se recolher, ficava no canto dele pintando, desenhando e ouvindo a Rádio Relógio Federal”. O cantor relembra as manias do patriarca: “Ele gostava daquele silêncio. Então, mamãe fez um escritório, um estudiozinho, onde ele ficava no canto dele olhando pássaro, formiga”. A família sente muita falta de Dorival e de Stella. “É muito difícil. Principalmente para a Nana”, confessa.

Até os 5 anos, Dori frequentava a cidade natal da mãe. “Lá, conheci goiaba, poio, carro de boi, a maria-fumaça que passava na cara da gente”, recorda. “Depois, Pequeri sumiu da nossa vida. De repente, nos Estados Unidos, soube que papai estava construindo lá. Depois de 50 anos, voltei. A cidade está linda, a mesma coisa. Só tiraram o trem e o carro de boi. É a política, a indústria automobilística”, lamenta.

SONGBOOK

Dori conta que a vida em Los Angeles, onde mora com a família, é boa. “Estou plantando a minha pimenteira, cuidando do meu pêssego, da minha macieira. Tenho um terreno e fico ali. Fiz um songbook do papai para o mercado brasileiro. A Sônia Lobo, irmã do Edu Lobo, tem uma editora aqui e está interessada. Parece que ela vai lançar songbooks do Ivan Lins e do Francis Hime de uma vez só. E ela me pediu para fazer o meu e o do papai para serem lançados entre agosto e setembro”, informa.

Dori não esconde que sempre foi contra a ideia de songbook, originalmente criado no Brasil pelo produtor Almir Chediak. Os álbuns de Almir reuniam artistas de tendências variadas para interpretar a obra de um compositor. “Fica uma coletânea babaca, eu acho. O termo é um pouco grosso, mas sem a intenção de diminuir o trabalho do Almir. A coisa fica tendenciosa, estranha. Você pega a música do papai, a música do Tom Jobim, e todo mundo canta de maneira diferente”, critica.

De acordo com o músico, no songbook do pai nada foi alterado. “Acrescento algumas coisas harmônicas, procurei descobrir os desenhos de violão dele em canções como É noite, botando uns carimbos de violão para mostrar os acordes. Às vezes, chamo a atenção da pessoa para esse lado, para a característica da música, para não ela não se perder. A maioria das canções de meu pai foi editada por Mangione, Irmãos Vitale, editores antigos. Controlamos umas 60 por meio da Editora Rosa Morena”, conta. “Não liguei muito para o fato de o editor ser o controlador da obra. Procurei ser fiel à cabeça e ao coração do papai como compositor, principalmente no que diz respeito ao mar. Tanto que, em São Paulo, estou querendo fazer um projeto sobre a música dele com orquestra sinfônica, nos 100 anos do Teatro Municipal”, revela.

SHAKIRA

Dori vem ao Brasil de três a quatro vezes por ano. “Não trabalho mais nos Estados Unidos, a música ficou esculhambada, né? As pessoas estão cantando com os seios, as coxas e tal. Estas Shakiras da vida… Particularmente, acho que não há mais mercado lá para o tipo de música que faço. Mesmo porque, pessoas mais antigas, como Herb Alpert, um cara que fazia sucesso na década de 1960, estão trabalhando nos lugares em que trabalho”, diz, orgulhoso.

“Venho para o Brasil porque gosto de trabalhar aqui. Aqui o meu trabalho rende, porque é aqui que me inspiro. Agora mesmo recebi a honraria do governo de Minas (Medalha Tiradentes). Eu e meu parceiro Paulo César Pinheiro”, comemora. Outro orgulho: o texto de apresentação do novo disco, assinado por Maria Bethânia. “Ela escreveu bonito”, conclui.

domingo, maio 16, 2010

PRA QUEM NÃO CONHECE GRAFITE...

Grafite marcou o  golaço na goleada por 5 a 1 do Wolfsburg sobre o Bayern de Munique

Grafite marcou um golaço na goleada por 5 a 1 do Wolfsburg sobre o Bayern de Munique em 2009.

Torcedores do Wolfsburg, da Alemanha, elegeram esse gol do brasileiro Grafite, ex-São Paulo, como o mais bonito da história do clube, em uma votação pela internet.

O atacante marcou o golaço no dia 4 de abril de 2009, nos 5 a 1 da equipe sobre o Bayern de Munique, pelo Campeonato Alemão.

No lance, Grafite recebeu a bola pela esquerda, driblou a zaga inteira do adversário e, em seguida, deu um leve toque de calcanhar que passou por dois jogadores, com o goleiro já vencido, marcando um lindo gol.

“É um gol que eu nunca vou me esquecer. Entrar para a história do clube é muito gratificante. Foi um belo gol", afirmou o jogador.

Tomara que marque vários nessa copa e que ajude muito o Brasil a ser hexacampeão.

Vejam só que golaço incrível:

http://www.youtube.com/watch?v=e8eLSpDa_1E

e aqui (mais extenso e em diferentes ângulos):

http://www.youtube.com/watch?v=o-wrhO0M6fc&NR=1

E LÁ VEM A COPA DO MUNDO, E AQUI VEM O FUTEBOL


Confira a lista dos convocados por Dunga para a Copa do Mundo:

Goleiros: Júlio César (Internazionale-ITA), Gomes (Tottenham-ING) e Doni (Roma-ITA)

Laterais: Maicon (Internazionale-ITA), Daniel Alves (Barcelona), Michel Bastos (Lyon-FRA) e Gilberto (Cruzeiro)

Zagueiros: Lúcio (Internazionale-ITA), Juan (Roma-ITA), Luisão (Benfica-POR) e Thiago Silva (Milan-ITA)

Volantes: Gilberto Silva (Panathinaikos-GRE), Felipe Melo (Juventus-ITA), Josué (Wolfsburg-ALE) e Kléberson (Flamengo)

Meias: Kaká (Real Madrid-ESP), Elano (Galatasaray-TUR), Ramires (Benfica-POR) e Júlio Baptista (Roma-ITA)

Atacantes: Luís Fabiano (Sevilla-ESP), Robinho (Santos), Nilmar (Villarreal-ESP) e Grafite (Wolfsburg-ALE)

Confira a lista de espera da seleção brasileira:

Alex (Chelsea); Marcelo (Real Madrid); Sandro (Internacional)
Paulo Henrique Ganso (Santos)
Ronaldinho Gaúcho (Milan)
Carlos Eduardo (Hoffenheim)
Diego Tardelli (Atlético-MG)

quarta-feira, maio 05, 2010

LULA - o lider mais influente do planeta, segundo o Time Magazine

Luiz Inácio Lula da Silva

Marco Grob for TIME

When Brazilians first elected Luiz Inácio Lula da Silva President in 2002, the country's robber barons nervously checked the fuel gauges on their private jets. They had turned Brazil into one of the most inequitable places on earth, and now it looked like payback time. Lula, 64, was a genuine son of Latin America's working class — in fact, a founding member of the Workers' Party — who'd once been jailed for leading a strike.

By the time Lula finally won the presidency, after three failed attempts, he was a familiar figure in Brazilian national life. But what led him to politics in the first place? Was it his personal knowledge of how hard many Brazilians must work just to get by? Being forced to leave school after fifth grade to support his family? Working as a shoeshine boy? Losing part of a finger in a factory accident?

No, it was when, at age 25, he watched his wife Maria die during the eighth month of her pregnancy, along with their child, because they couldn't afford decent medical care.

There's a lesson here for the world's billionaires: let people have good health care, and they'll cause much less trouble for you.

And here's a lesson for the rest of us: the great irony of Lula's presidency — he was elected to a second term in 2006 and will serve through this year — is that even as he tries to propel Brazil into the First World with government social programs like Fome Zero (Zero Starvation), designed to end hunger, and with plans to improve the education available to members of Brazil's working class, the U.S. looks more like the old Third World every day.

What Lula wants for Brazil is what we used to call the American Dream. We in the U.S., by contrast, where the richest 1% now own more financial wealth than the bottom 95% combined, are living in a society that is fast becoming more like Brazil.


Read more: http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1984685_1984864,00.html#ixzz0n3SufQsN

Lula, as elites e o vira-latas




É extremamente interessante que o brasileiro de maior destaque no mundo hoje seja um mestiço, nordestino, de origens paupérrimas e com déficit de educação formal. Para todos os segmentos das elites nacionais, nostálgicas de uma Europa que as rejeita, é como uma bofetada! E assim foi compreendida a lista do Time. Daí a resposta das elites: o silêncio!

Francisco Carlos Teixeira

Seguindo outros grandes meios de comunicação globais, a revista Time escolheu – na semana passada - o presidente Lula como o líder mais influente do mundo. A notícia repercutiu em todo o mundo, sendo matéria de primeira página, no jornalão El País.

Elite e preconceito
Na verdade a matéria o apontava como o homem mais influente do mundo, posto que nem só políticos fossem alinhados na larga lista composta pelo Time. Esta não é a primeira vez que Lula merece amplo destaque na imprensa mundial. Os jornais Le Monde, de Paris, e o El País, o mais importante meio de comunicação em língua espanhola (e muito atento aos temas latino-americanos) já haviam, na virada de 2009, destacado Lula como o “homem do ano”. O inédito desta feita, com a revista Time, foi fazer uma lista, incluindo aí homens de negócios, cientistas e artistas mundialmente conhecidos. Entre os quais está o brasileiro Luis Inácio da Silva, nascido pobre e humilde em Caetés, no interior de Pernambuco, em 1945, o presidente do Brasil aparece como o mais influente de todas as personalidades globais. Por si só, dado o ponto de partida da trajetória de Lula e as deficiências de formação notórias é um fato que merece toda a atenção. No Brasil a trajetória de Lula tornou-se um símbolo contra toda a forma de exclusão e um cabal desmentido aos preconceitos culturalistas que pouco se esforçam para disfarçar o preconceito social e de classe.

É extremamente interessante, inclusive para uma sociologia das elites nacionais, que o brasileiro de maior destaque no mundo hoje seja um mestiço, nordestino, de origens paupérrimas e com grande déficit de educação formal. Para todos os segmentos das elites nacionais, nostálgicas de uma Europa que as rejeita, é como uma bofetada! E assim foi compreendida a lista do Time. Daí a resposta das elites: o silêncio sepulcral!


Lula Líder Mundial
Desde 2007 a imprensa mundial, depois de colocá-lo ao lado de líderes cubanos e nicaraguenhos num pretenso “eixinho do mal”, teve que aceitar a importância da presença de Lula nas relações internacionais e reconhecer a existência de uma personalidade original, complexa e desprovida de complexos neocoloniais. Em 2008 a Newsweek, seguida pela Forbes, admitiam Lula como um personagem de alcance mundial. O conservador Financial Times declarava, em 2009, que Lula, “com charme e habilidade política” era um dos homens que haviam moldado a primeira década do século XXI. Suas ações, em prol da paz, das negociações e dos programas de combate à pobreza eram responsáveis pela melhor atenção dada, globalmente, aos pobres e desprovidos do mundo.

Mesmo no momento da invasão do Iraque, em busca das propaladas “armas de destruição em massa”, Lula havia proposto a continuidade das negociações e declarado que a guerra contra a fome era mais importante que sustentar o complexo industrial-militar norte-americano.

Em 2010, em meio a uma polêmica bastante desinformada no Brasil – quando alguns meios de comunicação nacionais ridicularizaram as propostas de negociação para a contínua crise no Oriente Médio – o jornal israelense Haaretz – um importante meio de comunicação marcado por sua independência – denominou Lula de “profeta da paz”, destacando sua insistência em buscar soluções negociadas para a paz. Enquanto isso, boa parte da mídia brasileira, fazendo eco à extrema-direita israelense, procurava diminuir o papel do Brasil na nova ordem mundial.

Lula, talvez mesmo sem saber, utilizando-se de sua habilidade política e de seu incrível sentido de negociações, repetia, nos mais graves dossiês internacionais, a máxima de Raymond Aron: a paz se negocia com inimigos. As exigências, descabidas e mal camufladas de recusa ás negociações, sempre baseadas em imposições, foram denunciadas pelo presidente brasileiro. Idéias pré-concebidas estabelecendo a necessidade de mudar regimes para se ter a paz ou usar as baionetas para garantir a democracia foram consideradas, como sempre, desculpas para novas guerras. Lula mostrou-se, em várias das mais espinhosas crises internacionais, um negociador permanente. Foi assim na crise do golpe de Estado na Venezuela em 2002 (quando ainda era candidato) e nas demais crises sul-americanas, como na Bolívia, com o Equador e como mediador em crises entre outros países.

Lula negociador
O mais surpreendente é que o reconhecimento internacional do presidente brasileiro não traz qualquer orgulho para a elite brasileira. Ao contrário. Lula foi ridicularizado por sua política no Oriente Médio. Enquanto isso o presidente de Israel, Shimon Perez ou o Grande-Rabino daquele país solicitavam o uso do livre trânsito do presidente para intervir junto ao irascível presidente do Irã. Dizia-se aqui que Lula ofendera Israel, enquanto o Haaretz o chamava de “profeta da paz” e a Knesset (o parlamento de Israel) o aplaudia em pé. No mesmo momento o Brasil assinava importantes acordos comerciais com Israel.

Ridicularizou-se ao extremo a atuação brasileira em Honduras, sem perceber a terrível porta que se abria com um golpe militar no continente. Lula teve a firmeza e a coragem, contra a opinião pública pessimamente informada, de dizer e que “... a época de se arrancar presidentes de pijama” do palácio do governo e expulsá-los do país pertencia, definitivamente, a noite dos tempos.

Honduras teve que arcar com o peso, e os prejuízos, de sustentar uma elite empedernida, que escrevera na constituição, após anos de domínio ditatorial, que as leis, o mundo e a vida não podem ser mudados. Nem mesmo através da expressa vontade do povo! E a elite brasileira preferiu ficar ao lado dos golpistas hondurenhos e aceitar um precedente tenebroso para todo o continente.

Brasil, país no mundo!
Também se ridicularizou a abertura das relações do Brasil com o conjunto do planeta. Em oito anos abriu-se mais de sessenta novas representações no exterior, tornando o Brasil um país global. Os nostálgicos do “circuito Helena Rubinstein” – relações privilegiadas com Nova York, Londres e Paris – choraram a “proletarização” de nossas relações. Com a crise econômica global – que desmentiu os credos fundamentalistas neoliberais – a expansão do Brasil pelo mundo, os novos acordos comerciais (ao lado de um mercado interno robusto) impediram o Brasil de cair de joelhos. Outros países, atrelados ao eixo norte-atlântico e aqueles que aceitaram uma “pequena Alca”, como o México, debatem-se no fundo de suas infelicidades. Lula foi ridicularizado quando falou em “marolhinha”. Em seguida o ex-poderoso e o ex-centro anti-povos chamado FMI, declarou as medidas do governo Lula como as mais acertadas no conjunto do arsenal anti-crise.

Mais uma vez silêncio das elites brasileiras!

Lula foi considerado fomentador da preguiça e da miséria ao ampliar, recriar, e expandir ações de redistribuição de renda no país. A miséria encolheu e mais de 91 milhões de brasileiros ascenderam para vivenciar novos patamares de dignidade social... A elite disse que era apoiar o vício da preguiça, ecoando, desta feita sabendo, as ofensas coloniais sobre “nativos” preguiçosos. Era a retro-alimentação do mito da “pereza ibérica”. Uma ajuda de meio salário, temporária, merece por parte da elite um bombardeio constante. A corrupção em larga escala, dez vezes mais cara e improdutiva ao país que o Bolsa Família, e da qual a elite nacional não é estranha, nunca foi alvo de tantos ataques.

A ONU acabou escolhendo o Programa Bolsa Família como símbolo mundial do resgate dos desfavorecidos. O ultra-conservador jornal britânico The Economist o considerou um modelo de ação para todos os países tocados pela pobreza e o Le Monde como ação modelar de inclusão social.

Mais uma vez a elite nacional manteve-se em silêncio!

Em suma, quando a influente revista, sem anúncios do governo brasileiro, Time escolhe Lula como o líder mais influente do mundo, a mídia brasileira “esquece” de noticiar. Nas páginas internas, tão encolhidas como um vira-lata em dia de chuva noticia-se que Lula “... está entre os 25 lideres mais influentes do mundo”. Errado! A lista colocava Lula como “o mais” influente do mundo.

Agora se espera o silêncio da elite brasileira!

Francisco Carlos Teixeira é professor Titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).