E quem quiser contribuir, mandando inclusive textos, é só me contactar. Comentários, é claro, serão bem-vindos - quem quiser polemizar, discutir, brigar, também pode: só não prometo continuar no tema, pois o tempo nem sempre existe, nem tudo vale a pena mergulhar fundo e os assuntos são muitos.

Ah! Para quem não me conhece, posso me definir como um ATIVISTA CULTURAL BRASILEIRO – adotando definição dada pela jornalista Beatriz Wagner (obrigado, Bea!) durante o Brazil Film Festival de Sydney, em outubro de 2009. Sou de São Paulo, capital, mas moro em Sydney, Austrália desde o final de 1980. Além de ser ou gostar de ser um ativista cultural, ou como parte disso, faço música, cinema, escrevo, trabalho como guia de turismo multilíngüe (em português, inglês, espanhol e italiano) viajando por toda a Austrália, faço traduções, dou aulas de violão, português e inglês, entre outras coisas – e sou formado em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie (SP) sem ter exercido a profissão.

quinta-feira, setembro 30, 2010

Carta ao Povo: Juristas lançam manifesto defendendo governo Lula


Está aqui abaixo uma demonstracão clara do que significa atualmente no Brasil a existência de uma mídia golpista, determinada a atacar desesperadamente o governo Lula, não importando de que maneira - inclusive através de mentiras e apelos velados a um novo golpe militar (como já fizeram em 1964, aliás). O desespero dessa mídia é tamanho que acusam o governo Lula de autoritarismo - gesto de uma ironia atroz, pois quem justamente é uma ameaça à democracia é essa mesma grande mídia - pois odeiam e são incapazes de aceitar o fato de que o governo Lula tem 80% de popularidade, melhorou a vida de grande parte dos marginalizados do país (que seguirão votando no PT) e vencerá esta eleição que se aproxima.
Está aqui abaixo a resposta a essas acusações mentirosas, através de um manifesto assinado por vários juristas de renome.




Um grupo de renomados juristas divulgou nesta segunda-feira (27/09/2010) manifesto intitulado "Carta ao Povo Brasileiro", onde reafirmam o compromisso do governo Lula com a preservação e a consolidação da democracia no pais. Os juristas rebatem a tese do "autoritarismo e de ameaça à democracia" que setores da grande imprensa e a oposição vêm tentando imputar ao presidente Lula e ao seu governo, após o presidente ter feito críticas ao comportamento da mídia em relação à candidatura de Dilma Rousseff.

"Nos últimos anos, com vigor, a liberdade de manifestação de idéias fluiu no País. Não houve um ato sequer do governo que limitasse a expressão do pensamento em sua plenitude. Não se pode cunhar de autoritário um governo por fazer criticas a setores da imprensa ou a seus adversários, já que a própria crítica é direito de qualquer cidadão, inclusive do Presidente da República", diz um trecho do documento, assinado por dezenas de personalidades do mundo jurídico, incluindo vários presidentes estaduais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

O documento registra ainda que é preciso deixar o povo ""tomar a decisão dentro de um processo eleitoral legítimo, dentro de um civilizado embate de idéias, sem desqualificações açodadas e superficiais, e com a participação de todos os brasileiros".

Veja abaixo a íntegra do manifesto:

Em uma democracia, todo poder emana do povo, que o exerce diretamente ou pela mediação de seus representantes eleitos por um processo eleitoral justo e representativo. Em uma democracia, a manifestação do pensamento é livre. Em uma democracia as decisões populares são preservadas por instituições republicanas e isentas como o Judiciário, o Ministério Público, a imprensa livre, os movimentos populares, as organizações da sociedade civil, os sindicatos, dentre outras.

Estes valores democráticos, consagrados na Constituição da República de 1988, foram preservados e consolidados pelo atual governo.

Governo que jamais transigiu com o autoritarismo. Governo que não se deixou seduzir pela popularidade a ponto de macular as instituições democráticas. Governo cujo Presidente deixa seu cargo com 80% de aprovação popular sem tentar alterar casuisticamente a Constituição para buscar um novo mandato. Governo que sempre escolheu para Chefe do Ministério Público Federal o primeiro de uma lista tríplice elaborada pela categoria e não alguém de seu convívio ou conveniência. Governo que estruturou a polícia federal, a Defensoria Pública, que apoiou a criação do Conselho Nacional de Justiça e a ampliação da democratização das instituições judiciais.

Nos últimos anos, com vigor, a liberdade de manifestação de idéias fluiu no País. Não houve um ato sequer do governo que limitasse a expressão do pensamento em sua plenitude.

Não se pode cunhar de autoritário um governo por fazer criticas a setores da imprensa ou a seus adversários, já que a própria crítica é direito de qualquer cidadão, inclusive do Presidente da República.

Estamos às vésperas das eleições para Presidente da República, dentre outros cargos. Eleições que concretizam os preceitos da democracia, sendo salutar que o processo eleitoral conte com a participação de todos.

Mas é lamentável que se queira negar ao Presidente da República o direito de, como cidadão, opinar, apoiar, manifestar-se sobre as próximas eleições. O direito de expressão é sagrado para todos – imprensa, oposição, e qualquer cidadão. O Presidente da República, como qualquer cidadão, possui o direito de participar do processo político-eleitoral e, igualmente como qualquer cidadão, encontra-se submetido à jurisdição eleitoral. Não se vêem atentados à Constituição, tampouco às instituições, que exercem com liberdade a plenitude de suas atribuições.

Como disse Goffredo em sua célebre Carta: “Ao povo é que compete tomar a decisão política fundamental, que irá determinar os lineamentos da paisagem jurídica que se deseja viver”. Deixemos, pois, o povo tomar a decisão dentro de um processo eleitoral legítimo, dentro de um civilizado embate de idéias, sem desqualificações açodadas e superficiais, e com a participação de todos os brasileiros.


ADRIANO PILATTI - Professor da PUC-Rio

AIRTON SEELAENDER - Professor da UFSC

ALESSANDRO OCTAVIANI - Professor da USP

ALEXANDRE DA MAIA - Professor da UFPE

ALYSSON LEANDRO MASCARO - Professor da USP

ARTUR STAMFORD - Professor da UFPE

CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO - Professor Emérito da PUC-SP

CEZAR BRITTO - Advogado e ex-Presidente do Conselho Federal da OAB

CELSO SANCHEZ VILARDI - Advogado

CLÁUDIO PEREIRA DE SOUZA NETO - Advogado, Conselheiro Federal da OAB e
Professor da UFF

DALMO DE ABREU DALLARI - Professor Emérito da USP

DAVI DE PAIVA COSTA TANGERINO - Professor da UFRJ

DIOGO R. COUTINHO - Professor da USP

ENZO BELLO - Professor da UFF

FÁBIO LEITE - Professor da PUC-Rio

FELIPE SANTA CRUZ - Advogado e Presidente da CAARJ

FERNANDO FACURY SCAFF - Professor da UFPA e da USP

FLÁVIO CROCCE CAETANO - Professor da PUC-SP

FRANCISCO GUIMARAENS - Professor da PUC-Rio

GILBERTO BERCOVICI - Professor Titular da USP

GISELE CITTADINO - Professora da PUC-Rio

GUSTAVO FERREIRA SANTOS - Professor da UFPE e da Universidade Católica de Pernambuco

GUSTAVO JUST - Professor da UFPE

HENRIQUE MAUES - Advogado e ex-Presidente do IAB

HOMERO JUNGER MAFRA - Advogado e Presidente da OAB-ES

IGOR TAMASAUSKAS - Advogado

JARBAS VASCONCELOS - Advogado e Presidente da OAB-PA

JAYME BENVENUTO - Professor e Diretor do Centro de Ciências Jurídicas da
Universidade Católica de Pernambuco

JOÃO MAURÍCIO ADEODATO - Professor Titular da UFPE

JOÃO PAULO ALLAIN TEIXEIRA - Professor da UFPE e da Universidade Católica de Pernambuco

JOSÉ DIOGO BASTOS NETO - Advogado e ex-Presidente da Associação dos
Advogados de São Paulo

JOSÉ FRANCISCO SIQUEIRA NETO - Professor Titular do Mackenzie

LENIO LUIZ STRECK - Professor Titular da UNISINOS

LUCIANA GRASSANO - Professora e Diretora da Faculdade de Direito da UFPE

LUÍS FERNANDO MASSONETTO - Professor da USP

LUÍS GUILHERME VIEIRA - Advogado

LUIZ ARMANDO BADIN - Advogado, Doutor pela USP e ex-Secretário de Assuntos
Legislativos do Ministério da Justiça

LUIZ EDSON FACHIN - Professor Titular da UFPR

MARCELLO OLIVEIRA - Professor da PUC-Rio

MARCELO CATTONI - Professor da UFMG

MARCELO LABANCA - Professor da Universidade Católica de Pernambuco

MÁRCIA NINA BERNARDES - Professora da PUC-Rio

MARCIO THOMAZ BASTOS - Advogado

MARCIO VASCONCELLOS DINIZ - Professor e Vice-Diretor da Faculdade de
Direito da UFC

MARCOS CHIAPARINI - Advogado

MARIO DE ANDRADE MACIEIRA - Advogado e Presidente da OAB-MA

MÁRIO G. SCHAPIRO - Mestre e Doutor pela USP e Professor Universitário

MARTONIO MONT'ALVERNE BARRETO LIMA - Procurador-Geral do Município de
Fortaleza e Professor da UNIFOR

MILTON JORDÃO - Advogado e Conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

NEWTON DE MENEZES ALBUQUERQUE - Professor da UFC e da UNIFOR

PAULO DE MENEZES ALBUQUERQUE - Professor da UFC e da UNIFOR

PIERPAOLO CRUZ BOTTINI - Professor da USP

RAYMUNDO JULIANO FEITOSA - Professor da UFPE

REGINA COELI SOARES - Professora da PUC-Rio

RICARDO MARCELO FONSECA - Professor e Diretor da Faculdade de Direito da
UFPR

RICARDO PEREIRA LIRA - Professor Emérito da UERJ

ROBERTO CALDAS - Advogado

ROGÉRIO FAVRETO - ex-Secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça

RONALDO CRAMER - Professor da PUC-Rio

SERGIO RENAULT - Advogado e ex-Secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça

SÉRGIO SALOMÃO SHECAIRA - Professor Titular da USP

THULA RAFAELLA PIRES - Professora da PUC-Rio

WADIH NEMER DAMOUS FILHO - Advogado e Presidente da OAB-RJ

WALBER MOURA AGRA - Professor da Universidade Católica de Pernambuco

sábado, setembro 25, 2010

CONSOLIDAR A RUPTURA HISTÓRICA OPERADA PELO PT – texto de Leonardo Boff* publicado em 30/08/2010


Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu, "capado e recapado, sangrado e ressangrado". Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguardados. Por isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que, proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis. São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fora construída com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas vidas, feitas carvão no processo produtivo. Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam: "façamos nós a revolução antes que o povo a faça". E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde "a coisa pública", o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: "não vim para administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e sofrido eu cuido". Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo na política brasileira. O "Fome Zero", depois o "Bolsa Família", o "Crédito Consignado", o "Luz para Todos", o "Minha Casa, minha Vida, o "Agricultura familiar, o "Prouni", as "Escolas Profissionais", entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram: um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se mobilizou para melhor.

Mas essa derrota infligida às elites excludentes e anti-povo, deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se configure um "não retorno definitivo" e elas percam a vergonha de se sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse. Terminou o longo amanhecer.

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os portugueses "descobrindo/encobrindo" o Brasil. O terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente que hoje somos. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes europeus que substituíram índios e escravos; a industrialização conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.

Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A construção interrompida (1993): "Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-Nação" (p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.

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* Teólogo, filósofo e escritor [Autor de Depois de 500 anos: que Brasil queremos, Vozes (2000)].

SINAIS DOS TEMPOS - texto de Frei Betto* PUBLICADO EM 19/09/2010

O mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Antigamente, nossos avós consultavam a Bíblia, a palavra de Deus, diante dos fatos da vida. Nossos pais, o serviço de meteorologia: "Será que vai chover?". Hoje, consulta-se o mercado: "O dólar desvalorizou? Subiu a Bolsa? Como oscilou o mercado de capitais?".

Diante de uma catástrofe, de um acontecimento inesperado, dizem os comentaristas econômicos: "Vamos ver como o mercado reage". Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, trancado em seu castelo e gritando pelo celular: "Não gostei da fala do ministro, estou irado." Na mesma hora os telejornais destacam: "O mercado não reagiu bem frente ao discurso ministerial".

Para as agências de publicidade, o mercado no Brasil compreende cerca de 40 milhões de consumidores. Neste país de 190 milhões de habitantes, uma minoria tem acesso aos bens supérfluos. Os demais, só aos de necessidade indispensável.

O grande desafio das pessoas em idade produtiva, hoje, é como se inserir no mercado. Devem ser competitivas, ter qualificação, disputar espaços. Sabem que o sistema recomenda não levarem a sério conotações éticas e encarar como quimérico um planejamento de inclusão das maiorias. O mercado é, agora, internacional, globalizado; move-se segundo suas próprias regras, e não de acordo com as necessidades humanas.

A crise da modernidade é, portanto, também a do racionalismo. No início da modernidade, principalmente na época dos iluministas, a religião era considerada superstição. Camponeses da Idade Média regavam seus campos com água benta, agradeciam aos padres (que, diga-se de passagem, cobravam pela água benta) e depois louvavam a Deus pela boa colheita. Até o dia em que apareceu um senhor oferecendo a eles um pozinho preto, o adubo, que também custava dinheiro, mas não dependia da ira ou do agrado divino - bastava aplicá-lo à terra e aquilo facilitava a colheita.

O adubo funcionou melhor que a água benta! Muitos camponeses perderam a fé, porque a concepção de Deus predominante na Idade Média era a de um Ser utilitário. (Por isso se costuma dizer, em teologia, que Deus não é nem supérfluo nem necessário; é gratuito, como todo amor).

Outrora, falava-se em produção; quem tinha um capital, precisava investi-lo, produzir. Hoje, fala-se em especulação. Dinheiro produz dinheiro. A cada dia, através de computadores, bilhões de dólares rodam o planeta em busca de melhores lucros. Passam da Bolsa de Singapura para a de Tóquio, desta para a de Buenos Aires, desta para a de São Paulo, desta para a de Nova York, e assim por diante. Agora, em Singapura, provavelmente estarão discutindo o que fazer com US$ 6 bilhões disponíveis no mercado.

Outrora, falava-se em marginalização. Alguém marginalizado no emprego ainda tinha esperança de voltar ao centro. Hoje, marginalização cedeu lugar a outro termo, exclusão - o ser humano excluído não tem esperança de volta, porque o neoliberalismo é intrinsecamente excludente. A exclusão não é um problema para ele, tal como a marginalização era para o liberalismo: é parte da lógica de crescimento do sistema e da acumulação de riquezas.

Antes, falava-se em Estado, o importante era fortalecer o Estado. Um ministro da ditadura militar chegou a declarar: "Vamos fazer crescer o bolo, depois haveremos de dividi-lo." Só que o bolo cresceu, e o gato comeu, não se viu o resultado. Aqueles mesmos políticos que advogavam o crescimento do Estado defendem, hoje, a sua destruição, com o sofisticado lema da ‘privatização’.

Não sou radicalmente contrário à privatização, nem estatista. Há países ricos - como a França e o Reino Unido - nos quais os serviços públicos estatais funcionam muito bem. Não é por serem públicas que as empresas e os serviços devem operar negativamente. A história é outra: muitos políticos, que deveriam ser homens públicos, estão prioritariamente ligados a empresas privadas, de maneira que não têm interesse em que as coisas públicas, estatais, funcionem bem. O maior exemplo disso é o serviço de saúde no Brasil. São US$ 8 bilhões circulando por ano nos planos privados de saúde, que atendem apenas 30 milhões de pessoas numa população de 190 milhões. Por que o SUS haveria de funcionar bem? Outrora, alguém ficava doente e dava graças a Deus por conseguir um lugar no hospital. Hoje, as pessoas morrem de medo de ir para o hospital. Hospital virou ante-sala de cemitério.

A privatização não é só econômica, é também filosófica, metafísica. Tem reflexos na nossa subjetividade. Também nos tornamos seres cada vez mais privatizados, menos solidários, menos interessados nas causas coletivas e menos mobilizáveis para as grandes questões. A privatização invade até mesmo o espaço da religião: proliferam as crenças ‘privatizantes’, que têm conexão direta com Deus. Isso é ótimo para quem considera que o próximo incomoda. É a privatização da fé, destituindo-a da sua dimensão social e política.

Enfim, hoje se fala em globalização; ótimo que o planeta tenha se transformado numa aldeia. O que preocupa é constatar que esse modelo é, de fato, a imposição ao planeta do paradigma anglo-saxônico. Melhor chamá-lo de globocolonização!

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*Frei Betto é escritor, autor de "Hotel Brasil – o mistério das cabeças degoladas" (Rocco), entre outros livros.

segunda-feira, setembro 20, 2010

domingo, setembro 19, 2010

"Cinco vezes favela, agora por nós mesmos" - cinema brasileiro com olhar lírico e engajado


Foto de divulgação


Por Ramon Mello



Cinco vezes favela – Agora por nós mesmos
reúne em cinco episódios, histórias concebidas e realizadas por jovens cineastas, moradores de favelas cariocas. O longa-metragem tem como referência o Cinco vezes favela de 1962, em que cinco jovens universitários de classe média – Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias, Leon Hirszman e Cacá Diegues – fizeram um filme em que o tema central era as favelas do Rio. O filme, que entra em cartaz nesta sexta, 26 de agosto, foi produzido por Diegues e Renata Almeida Magalhães.

Desta vez, as 946 comunidades do Rio de Janeiro estão representadas através do olhar dos próprios moradores da comunidade, com Manaíra Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos e Luciana Bezerra. Os jovens cineastas escolhidos começaram a trabalhar em organizações culturais como Cufa (Cidade de Deus), Nós do Morro (Vidigal), AfroReggae (Parada de Lucas) e Observatório das Favelas (Complexo da Maré).

Há quatro anos, mais de 200 jovens participaram de oficinas de preparação técnica, com professores como Fernando Meirelles, Ruy Guerra, Walter Salles, Dib Lutfi, Daniel Filho, entre outros cineastas consagrados, e começaram a escrever argumentos e a desenvolver coletivamente os roteiros – 84 jovens foram selecionados para trabalhar nas gravações. A aula inaugural foi com o mestre, diretor e acadêmico Nelson Pereira dos Santos. E o elenco foi preparado pela também atriz Camilla Amado.



> Leia entrevista com Cacá Diegues sobre o projeto

> Confira entrevista com Fernando Meirelles, que participou das oficinas com os jovens



Lirismo em episódios

Cinco vezes favela – Agora por nós mesmos, que ganhou sete prêmios no Festival de Paulínia de 2010, incluindo o de Melhor Filme para o júri oficial e para o júri popular, tem diferentes histórias que dialogam mais com a comédia do que com o drama. Talvez por isso, a sensação “happy end” incomode os espectadores. O lirismo está presente até mesmo em episódios com desfecho triste.

O primeiro deles, “Fonte de renda”, de Manaíra Carneiro, faz uma crônica da vida de um jovem universitário, Maicon (Silvio Guindane), morador de comunidade, que consegue ingressar na faculdade, mas tem dificuldades para manter os estudos. O ator sustenta o personagem com veracidade, mas o roteiro direciona para um desfecho moral e clichê.

“Arroz com feijão”, de Rodrigo Felha e Cacau Amaral, aborda o drama e a aventura do menino Wesley (Juan Paiva) e seu melhor amigo, Orelha (Pablo Vinicius) para presentear o pai (Flávio Bauraqui) com uma refeição diferente do arroz e feijão de todo dia. Os atores e o roteiro são excelentes. No entanto, há momentos desnecessários, como a explicação do pai para o fato de não conseguir comer frango, que beiram ao melodrama.

“Concerto para violino”, de Luciano Vidigal, é o episódio que mais se aproxima da estética “pobreza & violência”, excessivamente utilizada em filmes como Cidade de Deus e Tropa de elite. No entanto, trata-se da história mais bem executada, com atuações impecáveis de Samuel de Assis (o PM Ademir), Feijão (o chefe do tráfico, Tiziu), e Thiago Martins (Jota, rival de Tiziu).

"Deixa voar" (foto acima), de Cadu Barcellos, é o mais criativo e lírico, onde o território demarcado por facções rivais do tráfico de drogas é o que estabelece o limite das relações sociais. Com um roteiro bem construído, o espectador acompanha a história dos meninos que soltam suas pipas na laje dos casebres para romper com o cerceamento da liberdade.

“Acende a luz”, de Luciana Bezerra, o último episódio do filme, retrata um conto baseado em experiência dos moradores, quando ficaram sem luz na véspera do Natal de 2008. O ator Marcio Vitto, que interpreta o técnico de luz encarregado de resolver o problema da comunidade, faz seu trabalho com maestria. Com típicos personagens da classe média, a história pode confundir-se com um trecho de uma novela das oito. A narrativa final destaca o espírito coletivo da comunidade, que norteia o projeto em si.

Com erros ou acertos, o fato é que este projeto permite que os moradores de comunidades, cineastas, contem suas próprias histórias. Seja pela busca de linguagem ou pela necessidade de retratar a realidade através de um olhar único, o filme Cinco vezes favela – Agora por nós mesmos é imprescindível para quem se interessa pelo cinema brasileiro.

Assista o trailer:

sábado, setembro 18, 2010

Corinthians inaugura novo CT

O Corinthians inaugurou nesta sexta-feira o Centro de Treinamento Joaquim Grava, onde a equipe profissional de futebol passará a se preparar. Localizado no Parque Ecológico do Tietê, o local custou mais de R$ 10 milhões para ser reformado e seu nome homenageia o médico do clube que comandou as obras.


Ronaldo e Dentinho inauguraram o local e deixaram o médico Joaquim Grava emocionado


O CT do Corinthians já conta com campos, piscina, sauna, hidromassagem, salas de reuniões, de fisioterapia, capela e espaço para imprensa, mas ainda não está completo. Resta erguer um hotel, onde os jogadores ficarão concentrados.

Veja abaixo um pouco da "cidade do Corinthians", como o presidente Andrés Sanchez definiu.


O Centro de Preparação e Reabilitação Osmar de Oliveira (CePROO) foi ampliado no novo CT


Um painel do time campeão mundial em 2000 decora a entrada do centro de treinamento


O departamento médico do Corinthians vai utilizar esta sala para recuperar os lesionados


Ronaldo já estreou a sala de musculação, onde há um pôster com a imagem do astro


Após os jogos, o elenco do Corinthians utilizará a hidromassagem para se regenerar


A sala de imprensa do Parque Ecológico do Tietê é capaz de comportar centenas de jornalistas


Há muitos detalhes em roxo no CT, mas o alvinegro foi preservado nos ladrilhos da piscina

segunda-feira, setembro 06, 2010